Logo

Neurologia

5 minutos de leitura

Distonia: entenda o que é, quais são as causas e como diagnosticar

Distúrbio está associado, geralmente, a problemas no sistema nervoso central
GR
Dr. Gustavo Ramos de Lima - Neurologista Atualizado em 16/12/2022

A distonia é um distúrbio caracterizado por um movimento involuntário que pode afetar diversas partes do corpo, seja localizada ou generalizada. Essas contrações podem se apresentar de forma repetitiva, dolorosa e afetar a postura em locais como tronco, mãos, pés e cabeça.

Entenda, nesse blog, o que é distonia, os principais tipos e quais são as causas. Quem explica o tema é o Dr. Gustavo Ramos de Lima, neurologista do Hospital Nove de Julho.

O que é distonia?

A distonia é um distúrbio do movimento caracterizado pela contração de musculatura agonista e antagonista de maneira simultânea, involuntária, levando frequentemente a posturas torcionais. Os movimentos são estereotipados, ou seja, são repetitivos, seguindo sempre o mesmo padrão, característica muito útil para diferenciar de outros distúrbios de movimento, inclusive os de origem psicossomática. A distonia pode ser fásica, situação na qual pode haver tremor distônico; ou tônica, levando a contrações mais sustentadas.

De acordo com o Dr. Gustavo Ramos de Lima “o termo distonia pode se referir tanto ao conjunto de sinais e sintomas descritos acima, assim como a doenças específicas, muitas de etiologia genética. Algumas doenças ou condições clínicas têm a distonia como uma de suas manifestações enquanto em outros quadros ela pode ser o sintoma principal ou único".

Tipos de distonia

Podemos classificar a distonia de diversas formas. Quando ela é consequência de uma outra doença, seja neurológica ou sistêmica, chamamos de distonia secundária, caso contrário, será uma distonia primária. Exemplos de distonia secundária são aquelas decorrentes de acidente vascular cerebral (AVC), traumatismo cranioencefálico (TCE) ou doença de Parkinson.

Outra forma de classificação é pela parte do corpo afetada, aspecto importante para planejar o tratamento.

Distonia focal

Esse é o tipo mais comum e afeta uma parte do corpo e músculos específicos como somente braço ou perna.

Distonia multifocal

Nesse caso, afeta duas ou mais partes do corpo, sem que estejam interligadas, como, por exemplo, o braço esquerdo e a perna esquerda.

Distonia segmentar

Esse tipo atinge duas ou mais regiões interligadas, como músculos do pescoço e braço.

Distonia generalizada

Esse caso atinge o tronco e outras duas ou mais partes do corpo.

Alguns tipos de distonia são mais comuns na prática clínica, como os abaixo:

Blefaroespasmo

Apesar do nome espasmo, consiste em uma distonia da musculatura da pálpebra e de outros músculos ao redor dos olhos que leva a piscamentos involuntários, incômodo com a luz e desconforto na região. Por prejudicar a visão, pode atrapalhar muito a qualidade de vida

Distonia oromandibular

Movimentos involuntários da boca e lábios, muitas vezes com protrusão (formando bico). Quando combinada com blefaroespasmo recebe o nome de síndrome de Meige.

Distonia cervical

Pode causar tanto tremor quanto torção do pescoço, muitas vezes também causa dor.

Distonia tarefa-específica 

A pessoa apresenta uma postura anormal quando vai desempenhar determinada tarefa, geralmente algo que faz com frequência, podendo ser até uma tarefa de trabalho. É o caso da câimbra do escrivão, afetando a mão usada para escrever.

O que causa distonia?

O Dr. Gustavo Ramos de Lima explica que “os tipos diferentes de distonia, a primária e a secundária, têm causas diferentes. No caso das primárias, não é raro que não seja identificada uma causa específica, recebendo, assim, o nome de idiopática. Já em outros casos existem alterações genéticas conhecidas responsáveis pela doença que tem nomenclaturas específicas para cada caso".

No caso da distonia secundária, ela é causada a partir de doença ou por outras causas. Pode ser em consequência do uso de determinados tipos de medicamentos, com destaque para os neurolépticos, por doenças neurológicas como, por exemplo, acidentes vasculares cerebrais (AVC), infecções no sistema nervoso central, doença de Parkinson e doença de Huntington. Algumas doenças que afetam diversas partes do corpo também podem causar distonia, como a doença de Wilson e algumas doenças autoimunes.

O mecanismo da doença consiste em uma alteração no circuito motor e sensitivo do cérebro envolvendo diversas regiões sem necessariamente apresentar alguma alteração nos exames de imagem. Normalmente, quando uma área do cérebro correspondente a um músculo ou grupo de músculos é estimulada, as regiões adjacentes são automaticamente inibidas. Na distonia isso não acontece, levando a contração da musculatura agonista e antagonista

Quais são os primeiros sinais e sintomas da distonia?

Os sintomas variam de acordo com a parte atingida e também o tipo de distonia. Em geral não se espera que os movimentos já comecem com postura fixa ou apresentem início súbito. Os sintomas mais comuns são:

  • Movimentos repetitivos e estereotipados;
  • Tremor que varia suas características dependendo da postura adotada;
  • Posturas de torção;
  • Marcha anormal;
  • Dor local;
  • Gesto antagonista ou truque sensitivo (gesto capaz de aliviar o movimento sem necessidade de aplicação de força).

Hoje já se sabe que mesmo nas distonias primárias os pacientes podem apresentar sintomas não motores como alterações de sono e humor.

Como é feito o diagnóstico?

O Dr. Gustavo Ramos de Lima explica que “o diagnóstico da distonia é feito, em maior parte dos casos, por um neurologista de maneira clínica podendo-se utilizar exames para corroborar a hipótese. A detecção é feita com base no histórico da doença, histórico familiar e o exame físico e neurológico. A eletroneuromiografia pode trazer informações adicionais para confirmar a presença de distonia. Outros exames como testes de laboratório, exames de imagem e também testes genéticos são utilizados na identificação da causa".

Qual é o tratamento para distonia?

De acordo com Dr. Gustavo Ramos de Lima, o tipo de distonia é um determinante importante no momento de definir o tratamento. No caso das distonias focais, o tratamento de escolha é a toxina botulínica. Com base na avaliação clínica de quais músculos estão comprometidos, o neurologista é capaz de identificar quais músculos estão com uma ativação acima do normal. A toxina botulínica age enfraquecendo esses músculos com um efeito que dura em média 4 meses, variando de pessoa para pessoa.

Nas distonias generalizadas também é possível utilizar a toxina botulínica para as regiões mais afetadas, porém existe um limite de dose, por isso é comum a necessidade de medicamentos. Os principais são os anticolinérgicos (biperideno, triexifenidil) e benzodiazepínicos. Em alguns casos, relaxantes musculares também são utilizados.

Outra importante modalidade de tratamento é o uso de DBS (deep brain stimulation). Consiste em um eletrodo que é inserido dentro do cérebro cirurgicamente ligado a um gerador subcutâneo que fica no tórax abaixo da clavícula como se fosse um marca-passo. O neurologista especialista em distúrbios do movimento programa o eletrodo de maneira a regularizar o funcionamento do cérebro podendo obter alívio substancial dos sintomas em casos selecionados.

Qual médico procurar?

O neurologista é o médico que trata de doenças e alterações do sistema nervoso. A Neurologia do Hospital Nove de Julho oferece uma linha de cuidados de excelência estruturada desde o pronto-socorro com médicos especialistas em neurologia e atendimento 24h, centro cirúrgico, internação, UTIs até a alta médica. A equipe, formada por neurologistas e neurocirurgiões, está preparada para o atendimento de casos da mais alta complexidade.

Para marcar consultas e exames, acesse nossa Central de Agendamento Online.

Escrito por
GR

Dr. Gustavo Ramos de Lima

Neurologista
Escrito por
GR

Dr. Gustavo Ramos de Lima

Neurologista