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Doença de Gaucher: conheça os sintomas da doença genética e veja como tratá-la

Trata-se de uma enfermidade genética rara caracterizada pela deficiência de uma enzima lisossomal

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Doença de Gaucher: conheça os sintomas da doença genética e veja como tratá-la

Você já ouviu falar na doença de Gaucher? Trata-se de uma enfermidade genética rara caracterizada pela deficiência de uma enzima lisossomal (beta-glicosidase ácida ou beta-glicocerebrosidase). Isso faz com que alguns tipos de composto com açúcar e gordura, chamados glicocerebrosídeos (em especial glicosilceramida e glicosilesfingosina), sejam armazenados em diversos órgãos, como o fígado, os pulmões e o baço, além dos ossos e da medula óssea.  ​
O Dr. Nilton Salles Rosa Neto, reumatologista do Hospital Nove de Julho, explica que “trata-se de um erro inato do metabolismo, ou seja, uma doença em que variantes patogênicas afetam a função de um gene relacionado com o metabolismo celular. No caso da doença de Gaucher, o gene em questão é o GBA, e as variantes afetam a função da enzima beta-glicosidase ácida (ou beta-glicocerebrosidase), que é responsável por quebrar substâncias glicolipídicas (compostas de açúcar e gordura), mais precisamente a glicosilceramida e a glicosilesfingosina.

Uma vez que a enzima não funciona ou funciona de maneira inadequada, ocorre o acúmulo dessas substâncias nas organelas celulares, chamadas lisossomos. Isso gera disfunção celular, em especial de células imunológicas, o gera o aumento do tamanho de órgãos como o fígado e o baço, lesões ósseas como infartos e fraturas e falha na medula óssea com anemia. A queda de plaquetas pode ocorrer em razão do aumento do baço ou por defeito na medula óssea. Há maior risco de determinados tipos de câncer. A doença afeta homens e mulheres de modo semelhante".

Por causa dessa disfunção no organismo, muitos sintomas surgem e comprometem a qualidade de vida, entre os mais comuns estão palidez, cansaço, fraqueza e dores nos ossos. A doença de Gaucher tem tipos diferentes e gravidade variável. Por isso, o diagnóstico e o tratamento corretos são fundamentais para evitar complicações.

Nesta edição do blog, o Dr. Nilton Salles Rosa Neto explica o que é a doença, aborda seus tipos e diz como é feito o diagnóstico. Saiba mais! ​

O que é a doença de Gaucher?

A doença de Gaucher é um tipo de doença genética causada pelo acúmulo de glicocerebrosídeos nos tecidos. O distúrbio faz com que o corpo não tenha as enzimas necessárias para decompô-los ou que elas não funcionem de maneira adequada. Assim, a deficiência da enzima lisossomal beta-glicosidase causa o comprometimento da eliminação desse tipo de composto pelo corpo, que se acumula progressivamente nas células chamadas macrófagos. Estas, denominadas “células de Gaucher", por sua vez, ficam maiores e se acumulam em diversos órgãos, como, por exemplo, o baço e o fígado. ​

Existem tipos diferentes de doença de Gaucher. Conheça cada um deles, a seguir.

Doença de Gaucher tipo 1 – essa é a forma não neuronopática da doença, ou seja, a doença não afeta o sistema nervoso nas fases iniciais. É o tipo mais comum e normalmente começa na infância. Ela provoca o aumento do fígado e ocasiona alterações ósseas. Além disso, pode causar doença hepática grave e elevar o risco de hemorragia esofágica e estomacal e de câncer de fígado ou mieloma múltiplo

Doença de Gaucher tipo 2 – é o tipo mais raro e grave e acontece o indivíduo ainda na primeira infância. Esse tipo se apresenta como forma neuronopática aguda e pode causar a morte de crianças de até 2 anos. Ela provoca o aumento do baço e problemas neurológicos graves.

Doença de Gaucher tipo 3 – essa é a forma conhecida como neuronopática crônica, ou seja, tem também manifestações neurológicas graves. Começa na infância. Essa variante provoca o aumento do baço e do fígado, alterações ósseas, problemas oculares e problemas neurológicos de progressão lenta. 

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Quais são os sintomas da doença de Gaucher?

Conforme explica o Dr. Nilton Salles Rosa Neto, dependendo da atividade enzimática residual, ou seja, de quanta enzima ainda pode funcionar em decorrência do gene afetado, a doença pode ser de evolução mais rápida e precoce (pouca ou nenhuma função residual) ou de evolução mais lenta e tardia (maior quantidade de função residual, porém, menos que o normal). A gravidade da doença depende, em parte, da rapidez da evolução dela, mas também de quais órgãos foram afetados.

Existem três formas principais:

Tipo 1 – é a forma mais encontrada no adulto e que não acomete o sistema nervoso central inicialmente, mas cujos sintomas podem se iniciar na infância/adolescência.

Tipo 2 – é a forma grave encontrada em crianças, que acomete o sistema nervoso central.​

Tipo 3 – é a forma intermediária, que tem acometimento do sistema nervoso central, porém, de evolução mais gradual.

Diante dessa variedade, ainda é possível existir pessoas assintomáticas ou mesmo com doença tão grave com morte intraútero ou logo após o nascimento. Dessa maneira, o médico precisa estar atento a um conjunto de sinais e sintomas.

Os pacientes com o tipo 1 da doença costumam apresentar manchas roxas na pele por causa da queda das plaquetas e cansaço fácil em razão da anemia. Pode haver aumento do volume abdominal por conta do crescimento do baço e do fígado. O acometimento ósseo pode causar dores que ocorrem por fraturas e por oclusões dos vasos sanguíneos, que leva a infartos ósseos.

As crianças com o tipo 2 costumam ter aumento do baço no primeiro ano de vida e começam a ter perda do desenvolvimento neurológico com fraqueza muscular, enrijecimento muscular e alterações dos movimentos dos olhos. Elas param de crescer e passam a ter dificuldades para engolir, sustentar o pescoço e respirar, pela fraqueza dos músculos da laringe.

Os pacientes com o tipo 3 são afetados na primeira década de vida. A anemia e a queda de plaquetas e o aumento do fígado e do baço ocorrem em associação com questões neurológicas como perda de coordenação e espasmos musculares. Pode haver paralisia da movimentação ocular. Muitos podem ter disfunção pulmonar.

O Dr. Nilton Salles Rosa Neto acrescenta ainda que “existe um risco de desenvolver a doença de Parkinson em pacientes com o tipo 1, mas também em portadores de apenas uma variante (não diagnosticados como Gaucher). Então, é importante o médico estar atento a possíveis sinais de parkinsonismo nos adultos com maior idade e em seus familiares portadores da variante. Além disso, o cuidado com a saúde óssea dos pacientes é importante, assim, é preciso monitará-los por meio de exames de densitometria óssea para osteoporose e exames de radiografia ou, mais modernamente, de ressonância magnética de corpo total para avaliar a extensão das áreas de infarto, além de verificar o comprometimento intra-abdominal. Mais raramente, a doença de Gaucher pode ser causada por uma deficiência do ativador da enzima, conhecido como Saposina C".


Como diagnosticar a doença de Gaucher?

Em primeiro lugar, o diagnóstico é clínico na maior parte dos casos. O médico deve avaliar a presença de sinais e sintomas da doença e, assim, proceder à confirmação laboratorial.

O diagnóstico laboratorial consiste na análise da função da enzima beta-glicosidase no sangue, que deve estar reduzida ou ausente, seguida da identificação de variantes patogênicas no gene GBA por métodos moleculares. Esses achados laboratoriais devem ser interpretados à luz dos resultados clínicos.

Existe também um exame chamado quitotriosidase, que mede a atividade de uma enzima relacionada com a atividade dos macrófagos, principais células afetadas na doença de Gaucher. Nesse caso, a enzima está aumentada e serve para auxiliar o diagnóstico e monitorar a resposta ao tratamento. Entretanto, 5-6% da população em geral não produz essa enzima, nesses casos, a avaliação não é útil.

Existem outros biomarcadores de acesso mais restrito que podem ser usados na avaliação complementar para diagnóstico e monitoramento (Lyso-GL1 – glicosilesfingosina e CCL18).

O diagnóstico da doença de Gaucher deve ser feito com base na avaliação do quadro clínico do paciente combinada com exames complementares.

  • Exame de sangue para medir os níveis de enzima beta-glicosidase em papel filtro ou em glóbulos brancos.
  • Análise de variantes patogênicas no gene GBA.
  • Exame de sangue para medir os níveis de quitotriosidase ou outros biomarcadores.​

Em determinadas situações, a identificação da condição pode ser feita ainda na vida fetal. A avaliação da medula óssea não é necessariamente indicada para diagnóstico, mas quando realizada para a verificação de situações em que há anemia e queda de plaquetas, o médico deve estar atento para a possível visualização de células de Gaucher.

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Existe for​​ma de prevenção?

De acordo com o Dr. Nilton Salles Rosa Neto, “em se tratando de doença genética com herança autossômica recessiva, é preciso que o indivíduo afetado receba os genes de predisposição do pai e da mãe. Assim, o casamento consanguíneo de famílias predispostas aumenta o risco de crianças com a doença de Gaucher, de modo que pode ser evitado".


A doenç​​a de Gaucher tem cura?

O médico explica que “nos dias atuais, ainda não. Existem dois tipos de tratamento disponíveis no Sistema Único de Saúde: a terapia de reposição enzimática, em que a medicação é aplicada na veia, e a terapia de redução de substrato, que é uma medicação por via oral".

 

Tratamento

Os tratamentos disponíveis atualmente restringem-se aos tipos 1 e 3. A terapia de reposição enzimática é o método tradicional – existem três opções diferentes para uso, todas como infusões endovenosas a cada duas semanas. A terapia de redução de substrato, método usado por via oral para reduzir o material acumulado nas células, é utilizada como terapia alternativa em casos em que a reposição enzimática não seja a melhor opção. Trata-se de um comprimido ministrado três vezes por dia.

Além disso, o paciente precisa de suporte para a saúde óssea, o controle da dor, a reabilitação para a manutenção da funcionalidade e, eventualmente, o tratamento cirúrgico de problemas osteoarticulares. Nos pacientes com manifestações convulsivas, é necessário o uso de anticonvulsivantes.

 

Hospital Nove de Julho

A terapia de reposição enzimática pode ser realizada no Centro de Infusão do hospital, com equipe especializada no manejo da infusão e no tratamento de possíveis reações adversas. O serviço de hemoterapia fica responsável pela programação de transfusões sanguíneas quando indicadas pelo médico assistente.​

No Centro de Infusão também é possível realizar a aplicação de medicações para osteoporose, indicadas em casos selecionados. E o Centro de Doenças Raras e da Imunidade possui médicos com experiência em manejo da dor crônica.

Além do tratamento medicamentoso, o Hospital Nove de Julho é capacitado para realizar procedimentos cirúrgicos para a correção de lesões ósseas que requeiram próteses articulares, como a osteonecrose de quadril.

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