
Uma condição que exige atenção, mas que com o acompanhamento correto, permite uma gravidez tranquila e saudável.
O cansaço parece ir além do normal da gravidez. A dificuldade de concentração e a sensação de frio se tornam constantes, mesmo em dias amenos. Esses sinais, muitas vezes atribuídos às transformações da gestação, podem na verdade indicar uma condição específica: o hipotireoidismo gestacional.
O que é o hipotireoidismo gestacional
O hipotireoidismo gestacional é uma disfunção na qual a glândula tireoide da mulher não consegue produzir a quantidade de hormônios tireoidianos (T3 e T4) necessária para suprir as demandas aumentadas da gravidez.
Esses hormônios são vitais não apenas para o metabolismo da mãe, mas principalmente para o desenvolvimento do cérebro e do sistema nervoso do feto. É crucial que a mãe mantenha níveis adequados de hormônios da tireoide, pois eles são essenciais para o desenvolvimento saudável do cérebro do bebê, incluindo seu sistema nervoso central.
Existem dois tipos principais:
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hipotireoidismo clínico: ocorre quando o hormônio estimulador da tireoide (TSH) está elevado e o nível de T4 livre está baixo.
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hipotireoidismo subclínico: acontece quando o TSH está elevado, mas o T4 livre permanece em níveis normais. Mesmo sendo mais sutil, também requer atenção e acompanhamento.
Por que o hipotireoidismo pode surgir na gravidez
Durante a gestação, o corpo feminino passa por uma série de adaptações hormonais e metabólicas. A tireoide é naturalmente mais exigida e precisa aumentar sua produção em até 50%. Algumas mulheres, no entanto, não conseguem atender a essa demanda.
As principais causas para essa dificuldade incluem:
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doenças autoimunes: a causa mais comum é a Tireoidite de Hashimoto, na qual o sistema imunológico ataca a própria tireoide;
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deficiência de iodo: o iodo é um mineral essencial para a produção dos hormônios tireoidianos. Sua carência pode limitar a capacidade da glândula;
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histórico familiar: mulheres com familiares que possuem doenças tireoidianas têm um risco aumentado.
Quais são os principais sintomas a observar
Um dos maiores desafios do diagnóstico é que os sintomas do hipotireoidismo gestacional se assemelham muito aos desconfortos comuns da gravidez. Por isso, a investigação laboratorial é tão importante. Fique atenta se você notar:
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cansaço extremo e sonolência excessiva;
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ganho de peso acima do esperado para a fase da gestação;
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intolerância ao frio;
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pele seca e cabelos quebradiços;
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constipação intestinal (prisão de ventre);
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inchaço no rosto e nas extremidades;
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dificuldade de concentração e falhas de memória.
Como o diagnóstico é realizado
O diagnóstico é simples e feito por meio de um exame de sangue que mede as dosagens de TSH e T4 livre. Como os valores de referência para esses hormônios mudam durante a gravidez, os resultados devem ser interpretados por um médico especialista, considerando a semana gestacional.
De acordo com diretrizes de sociedades médicas, como a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), os valores de TSH podem variar.
Quais são os riscos se não for tratado
A falta de tratamento adequado para o hipotireoidismo gestacional pode trazer consequências sérias tanto para a mãe quanto para o bebê. O acompanhamento médico rigoroso é a melhor forma de evitar essas complicações.
Riscos para a mãe
A mãe com hipotireoidismo não controlado tem um risco aumentado para condições como pré-eclâmpsia (pressão alta na gravidez), anemia, sangramento pós-parto e até mesmo aborto espontâneo.
No entanto, a identificação precoce e o manejo adequado do hipotireoidismo gestacional podem contribuir para um menor risco de perda da gravidez, indicando um efeito protetor do tratamento.
Riscos para o bebê
Para o feto, os hormônios da tireoide maternos são essenciais, especialmente no primeiro trimestre, quando sua própria tireoide ainda não funciona. A falta deles pode levar a: parto prematuro; baixo peso ao nascer; e problemas no desenvolvimento neurológico e cognitivo, impactando o QI da criança.
É importante destacar que, embora estudos associem o hipotireoidismo materno grave e não tratado a maiores riscos de transtornos do neurodesenvolvimento, o tratamento adequado reduz drasticamente essas chances.
A intervenção médica para a disfunção da tireoide na gravidez é muito importante, pois a condição materna pode ser um fator de risco para o hipotireoidismo neonatal (no recém-nascido).
Como funciona o tratamento durante a gestação
O tratamento é seguro e eficaz, baseado na reposição do hormônio que a tireoide não está produzindo. Isso é feito com o uso diário de levotiroxina, uma versão sintética do hormônio T4. Em geral, mulheres com hipotireoidismo precisam aumentar a dose de levotiroxina em cerca de 50% durante o primeiro trimestre de gestação.
A monoterapia com T4, ou seja, o uso apenas da levotiroxina, é o tratamento padrão para manter a função tireoidiana adequada na gravidez. A medicação não oferece riscos para o bebê e é fundamental para garantir seu desenvolvimento saudável.
A dose é ajustada individualmente pelo médico endocrinologista ou obstetra, com base em exames de sangue periódicos realizados a cada 4 a 6 semanas durante toda a gestação.
O hipotireoidismo gestacional continua após o parto
Esta é uma dúvida muito comum e a notícia é, em geral, tranquilizadora. Na maioria das mulheres que desenvolvem o hipotireoidismo apenas durante a gravidez, a condição é transitória. A função da tireoide tende a se normalizar nos meses seguintes ao parto.
No entanto, o acompanhamento médico no pós-parto é indispensável. É fundamental reajustar a dose de levotiroxina para o nível pré-gravidez e refazer os exames da tireoide cerca de seis semanas depois do parto. O especialista irá então decidir sobre a necessidade de continuar, ajustar ou suspender a medicação.
Como garantir uma gestação saudável com essa condição
Receber o diagnóstico de hipotireoidismo gestacional pode gerar preocupação, mas com as medidas certas, é perfeitamente possível ter uma gravidez saudável e segura. O segredo está no diagnóstico precoce e no tratamento disciplinado.
Siga rigorosamente as orientações do seu pré-natal, tome a medicação conforme prescrito e não falte às consultas de acompanhamento. Comunicar qualquer sintoma novo ao seu médico é crucial para que os ajustes necessários sejam feitos, garantindo o bem-estar seu e do seu bebê.
Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.


