Entender os gatilhos por trás desta condição autoimune é o primeiro passo para o controle e a qualidade de vida.

Receber um diagnóstico de lúpus pode gerar muitas dúvidas. A primeira delas, quase sempre, é: por que eu? A busca por uma resposta única e definitiva pode ser frustrante, pois a medicina entende que o lúpus não surge de um só fator, mas sim de uma complexa interação no organismo.

O que é o lúpus e por que o corpo ataca a si mesmo?

O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), ou simplesmente lúpus, é uma doença autoimune crônica. Em condições normais, o sistema imunológico produz anticorpos para proteger o corpo de invasores, como vírus e bactérias. Em uma pessoa com lúpus, esse sistema passa a funcionar de forma desregulada.

Essa condição autoimune leva o sistema de defesa do corpo a atacar por engano tecidos saudáveis em diversas partes do organismo. A principal causa dessa disfunção está ligada a um desequilíbrio profundo do sistema imunológico, afetando especialmente o interferon tipo 1 e os neutrófilos, que são células de defesa. 

Esse ataque gera inflamação e pode causar danos em diversas partes, como pele, articulações, rins, cérebro, coração e pulmões.

Existe uma única causa para o lúpus?

Não. A ciência aponta que o lúpus é uma doença multifatorial, ou seja, resulta da combinação de diferentes elementos que, juntos, criam o cenário para o seu desenvolvimento.

A causa exata do lúpus ainda está sendo estudada. No entanto, a condição é atribuída à interação complexa entre fatores genéticos (inatos) e fatores ambientais (adquiridos).

O lúpus é uma condição complexa influenciada por essa combinação de fatores. Estes incluem aspectos genéticos, ambientais — como infecções e exposição a toxinas — e disfunções no sistema imunológico. Em alguns casos, a origem específica pode, inclusive, permanecer desconhecida.

Os especialistas agrupam esses elementos em três pilares principais: a genética, os hormônios e os fatores ambientais.

Quais são os fatores genéticos envolvidos no lúpus?

A genética funciona como a base da suscetibilidade. Uma pessoa pode nascer com certas variações genéticas que a tornam mais propensa a desenvolver lúpus. Estudos indicam a existência de pelo menos 330 regiões de risco genético que podem contribuir para a suscetibilidade à doença.

É por isso que a doença pode ocorrer com mais frequência em algumas famílias. Contudo, é fundamental entender que ter a predisposição genética não é uma sentença. A maioria das pessoas com esses genes nunca desenvolverá a doença. A genética prepara o terreno, mas um ou mais gatilhos são geralmente necessários para que o lúpus se manifeste.

Como os hormônios influenciam no desenvolvimento do lúpus?

Os dados mostram que o lúpus afeta desproporcionalmente as mulheres, especialmente durante a idade fértil, entre 15 e 45 anos. Essa observação levou os pesquisadores a identificar uma forte ligação com os hormônios femininos, principalmente o estrogênio.

Acredita-se que o estrogênio possa modular a resposta imune, tornando-a mais agressiva em indivíduos geneticamente predispostos. Mudanças hormonais, como as que ocorrem na puberdade, gravidez ou mesmo durante o ciclo menstrual, podem influenciar a atividade da doença.

Quais gatilhos ambientais podem ativar o lúpus?

Os fatores ambientais são considerados os "interruptores" que podem ativar a doença em alguém que já possui a predisposição genética e hormonal. Eles são variados e nem sempre é possível identificar um gatilho específico para cada caso. Estudos indicam que elementos como infecções e a exposição a toxinas podem influenciar o desenvolvimento do lúpus.

Exposição à luz solar (radiação UV)

A radiação ultravioleta (UV) é um dos gatilhos mais conhecidos. A exposição ao sol pode causar uma reação inflamatória na pele e, em pessoas suscetíveis, desencadear uma resposta imune exagerada que pode iniciar ou agravar uma crise de lúpus.

Infecções virais ou bacterianas

Algumas infecções podem "confundir" o sistema imunológico. Vírus como o Epstein-Barr (causador da mononucleose) têm sido associados ao desenvolvimento de doenças autoimunes. A infecção pode estimular o sistema imune de tal forma que ele passa a não diferenciar mais entre o invasor e as células do próprio corpo.

Uso de certos medicamentos

Existe um tipo específico de lúpus chamado "lúpus induzido por drogas". Certos medicamentos, incluindo alguns para pressão alta, convulsões e antibióticos, podem causar sintomas semelhantes ao lúpus. Na maioria dos casos, os sintomas desaparecem após a suspensão do medicamento, sempre sob orientação médica.

Estresse físico ou emocional

Embora a ligação ainda seja estudada, o estresse intenso, seja por uma cirurgia, um acidente ou um trauma emocional, é relatado por muitos pacientes como um evento que precedeu o início dos sintomas. O estresse crônico pode desregular a resposta imune e inflamatória do corpo.

Tabagismo

Fumar é um fator de risco conhecido para o desenvolvimento e agravamento do lúpus. As substâncias tóxicas do cigarro aumentam a inflamação geral do corpo e podem contribuir para a ativação da doença.

É verdade que existem diferentes tipos de lúpus?

Sim, o lúpus pode se apresentar de formas distintas, embora a causa de fundo seja a mesma desregulação imune. Conhecer os tipos ajuda a entender o diagnóstico:

• Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES): é a forma mais comum e pode afetar várias partes do corpo, incluindo órgãos internos.

• Lúpus Discoide: afeta principalmente a pele, causando lesões avermelhadas e circulares, geralmente no rosto e couro cabeludo.

• Lúpus Induzido por Drogas: como mencionado, é desencadeado pelo uso de medicamentos específicos e geralmente regride com a sua suspensão.

• Lúpus Neonatal: uma forma rara que afeta recém-nascidos de mães com certos anticorpos, sendo geralmente temporária.

Perguntas frequentes sobre as causas do lúpus

Esclarecer mitos e dúvidas comuns é essencial para lidar com a condição de forma tranquila e informada. A seguir, respondemos a algumas perguntas frequentes.

O lúpus é contagioso?

Não. O lúpus é uma condição autoimune e não infecciosa. Não é possível "pegar" ou transmitir lúpus para outra pessoa através de contato físico, saliva, sangue ou qualquer outra forma.

O lúpus é um tipo de câncer?

Não. Lúpus não é câncer. O câncer é caracterizado pelo crescimento descontrolado de células anormais. O lúpus, por outro lado, é uma doença inflamatória causada por uma disfunção do sistema imunológico.

O lúpus tem cura?

Atualmente, o lúpus não tem cura, mas tem tratamento. Com o acompanhamento de um médico reumatologista e a adesão ao tratamento, a maioria das pessoas consegue controlar a doença, minimizar os sintomas e levar uma vida normal e produtiva.

Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.